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Peabiru-PR
Palavra do padre
21/04/2017

Reflexão ao segundo domingo da páscoa

Reflexão ao segundo domingo da páscoa

23/04/2017

 

Tomé respondeu Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20, 28)

 

Queridos filhos e filhas, depois de vivenciamos, de maneira profunda e com grande fé, a semana da Paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, chegamos ao centro de nossa vida cristã: a Ressurreição do Senhor, celebrada solenemente domingo passado – Aleluia, Cristo Ressuscitou!!!!

 

Estamos, agora, no tempo pascal, tempo de celebrarmos a alegria da ressurreição. Ao longo deste tempo acompanharemos, nos evangelhos propostos pela liturgia, os vários momentos em que Cristo aparece, ressuscitado, aos seus discípulos e apóstolos, até chegar o dia de Pentecostes: O “derramamento” do Espírito Santo sobre Maria e os apóstolos, reunidos do Cenáculo e, ao mesmo tempo, a Ascenção de Jesus ao céu. Assim, temos pela frente cinquenta dias de tempo pascal, até o Pentecostes.

 

Neste segundo domingo da páscoa, a liturgia nos apresenta o evangelho de São João, 20, 19-31: Jesus que aparece, ressuscitado, aos seus discípulos, reunidos, às portas fechadas com medo dos judeus; é aqui também que encontramos Tomé, incrédulo Tomé, que professa uma das mais bonitas fórmulas de profissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus”.

 

Alguns detalhes desta aparição nos são interessantes, e nos ajudam a fazer, também nós, nossa experiência de encontro com o Cristo Ressuscitado.

 

Um dos primeiros elementos é o fato de como Jesus aparece aos discípulos e os encontra: “Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou Se no meio deles e disse lhes: “A paz esteja convosco” (Jo 20, 19-31). Os discípulos estão com as portas fechadas, por medo dos judeus; Jesus se coloca no meio deles.

 

Logo após os eventos da paixão houve, espalhado entre os discípulos, um grande medo, certamente eles pensavam: também nós seremos perseguidos e mortos, como fizeram com o “nosso mestre e Senhor Jesus”. Por isso o fechamento em si mesmos, por isso as portas fechadas, demonstrando um medo de se comprometerem com uma causa que os pode levar à morte. Aquilo, ou aquele que devolve o ânimo aos discípulos e os faz sair do medo é, de fato, a presença do Ressuscitado entre eles e a nova vida que Cristo os dá: “soprou sobre eles e disse lhes: Recebei o Espírito Santo...” O Cristo Ressuscitado, aqui, assume uma atitude como a Deus ao criar o ser humano, ou seja, o sopro criador que Deus faz, lá no livro do Gênesis, ao criar o ser humano, soprando sobre estes o hálito da vida (Gn. 2, 7). Cristo Ressuscitado nos “re-cria”, nos tira de nosso fechamento e nos dá vida nova, pois, afinal, sua ressureição é vida nova.

 

Um outro fato, interessante, é que Jesus se põe no meio dos discípulos que estão ai reunidos. Notemos que eles estão reunidos – a comunidade reunida - e Jesus Ressuscitado assume a posição de estar no meio: “veio Jesus, colocou Se no meio deles e disse...” Assim, a maior manifestação do Ressuscitado é quando a comunidade está reunida. Não importa a situação, o estado de ânimo desta comunidade, o importante é que ela esteja unida para experimentar o Cristo Ressuscitado e recobrar a fé, a esperança, a vida nova. Hoje, a maior manifestação do Ressuscitado acontece quando nos reunimos em comunidade, quando celebramos a liturgia e somos capazes de provar do Cristo que, como respondemos, “Ele está no meio de nós”.  

 

O segundo fato de relevância, é profissão de fé de Tomé: “Meu Senhor e meu Deus”. Nesta segunda parte do evangelho deste segundo domingo da páscoa (vers. 24-29), apresenta-se uma catequese sobre a fé. Como é que se chega à fé em Cristo ressuscitado? São João responde: podemos fazer a experiência da fé em Cristo vivo e ressuscitado na comunidade dos crentes, que é o lugar natural onde se manifesta e irradia o amor de Jesus. Tomé representa aqueles que vivem fechados em si próprios (está fora) e que não faz caso do testemunho da comunidade, nem percebe os sinais de vida nova que nela se manifestam: “Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus” (Jo. 20, 24). Em lugar de se integrar e participar da mesma experiência, pretende obter (apenas para si próprio) uma demonstração particular de Deus. Tomé acaba, no entanto, por fazer a experiência de Cristo vivo no interior da comunidade. Porquê? Porque no “dia do Senhor” volta a estar com a sua comunidade. É uma alusão clara ao Domingo, ao dia em que a comunidade é convocada para celebrar a Eucaristia: é no encontro com o amor fraterno, com o perdão dos irmãos, com a Palavra proclamada, com o pão de Jesus partilhado, que se descobre Jesus ressuscitado. A experiência de Tomé não é exclusiva das primeiras testemunhas; todos os cristãos de todos os tempos podem fazer esta mesma experiência. Assim, Tomé é o ícone de todos os que vivem longe, afastado da comunidade de fé e que não faz nem caso de escutar o testemunho daqueles que lá vivem e fazem esta experiência. Mas, ao mesmo tempo, Tomé é também a prova de que o poder de Cristo Ressuscitado é capaz de tocar a todos os corações, mesmo os mais duros e incrédulos e os transformar.

 

Contudo, a vida da comunidade cristã gira em torno de Jesus, constrói-se à volta de Jesus e é d’Ele que recebe vida e, também, é “re-criada” por Ele, d’Ele recebe amor e paz. Sem Jesus, estaríamos secos e estéreis, incapazes de encontrar a vida em plenitude; sem Ele, seriamos um rebanho de gente assustada, incapaz de enfrentar o mundo e de ter uma atitude construtiva e transformadora; sem Ele, estaríamos divididos, em conflito, e não seriamos uma comunidade de irmãos… Ainda, este evangelho, desta liturgia, nos mostra que não é em experiências pessoais, íntimas, fechadas e egoístas que encontramos Jesus ressuscitado; mas encontramo-l’O no diálogo comunitário, na Palavra partilhada, no pão repartido, no amor que une os irmãos em comunidade de vida. 

 

Pe Adailton Luduvico, CSF – vigário paroquial



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